segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Resenha - Apátrida de Ana Paula Bergamasco

Acho que vou escrever a resenha mais difícil de todas para mim agora. Não sei por onde começar e exatamento o que escrever. ¨Apátrida¨ mexeu muito comigo... E eu já esperava por isso. Guerras mexem muito comigo, sofrimento, mutilação, injustiças mexem muito comigo...

Vou começar, como sempre, pela parte física do livro. A capa, não tenho que dizer... Acho que é a capa de livro mais linda que vi este ano... O lindíssimo olho azul, a lágrima caindo e os trilhos dos trens que levavam os prisioneiros para os campos de concentração, já nos ambientam no romance. Na conracapa, a figura de um porto e os dizeres de Auschwitz: Arbeit macht frei, que significa ¨O trabalho liberta¨. Nas orelhas, uma breve sinopse sobre o livro e uma descrição de Ana Paula Bergamasco, a autora do romance. Além disto, a rosa... Que estaria presente em diversos momentos da trama. A Editora Todas as Falas fez um excelente trabalho!

Ana Paula Bergamasco... Guardem bem este nome... De fato, espero que seu talento seja reconhecido à altura. Agradeço por ter-me enviado o livro. Esta parceria era de grande interesse para mim pois analisar um livro falando de um assunto tão delicado e que sempre foi alvo de estudo e interesse para mim.

Bom, ¨Apátrida¨ é um romance praticamente biográfico de Irena. O primeiro capítulo se inicia com o nascimento da protagonista, a mais jovem de oito irmãos. Três meninas e cinco rapazes. A vida em uma comunidade tipicamente rural era relativamente tranquila... O bosque perto de sua casa era o palco de muitas brincadeiras entre os seus irmãos e Jacob, seu amigo de infância. Todos crescem e Irena percebe que havia um algo mais em sua bela amizade com Jacob. Este era judeu, diferentemente de Irena que era católica ortodoxa. Irena sonhava com seu romance com Jacob, mas faltou-lhe coragem para expor o que sentia. Jacob então casa-se com uma bela mulher, elegante, fina e culta. A partir daí os martírios de Irena começam.

Não estar com o seu amado é algo que ela passa a carregar... Apesar do seu casamento com Rurik e sua nova vida na Bielorrússia, algo sempre faltaria para Irena, apesar de Rurik ser um bom marido. Por um tempo tudo estava calmo apesar da distância da família. Mas vamos lembrar que não demoraria muito para estourar a guerra e Irena e o marido se encontravam em uma região um tanto quanto estratégica de influência dos soviéticos.

Uma sucessão de fatos leva Irena a voltar para sua casa na região rural da Polônia. Mas os momentos de paz são escassos. A situação política vai se deteriorando aos poucos e, em pouco tempo, Irena se vê em uma Europa caótica. Rapidamente os nazistas tomam a Polônia e a perseguição, pricipalmente aos judeus, se inicia. Irena agora carrega a responsabilidade de uma promessa feita a Jacob, que acabou sendo levado para um dos guetos em Varsóvia.

Irena acaba sendo levada para o inferno do holocausto. Um campo de concentração. O maior deles. Auschwitz. Lá Irena vê que apesar do inferno em que vive, mesmo com corpos quase mortos, é salva e salva muitas vidas também. De onde apenas existe sofrimento, surge o bem personificado sobre diversas formas.


Bom, sabemos que Irena sobrevive ao holocausto pois Bergamasco narra a trama intercalando os fatos passados e ¨atuais¨ quando Irena deixa a Europa e vem para o Brasil. E engana-se quem pensa que isso estraga a narrativa. Muitas revelações, encontros com pessoas do passado e muitas surpresas permeiam estes momentos da narrariva. As pontas que ficam abertas no passado são todas fechadas nas narrativas presentes. Cada capítulo da trama mostra uma nova revelação, um novo acontecimento, seja no passado ou no presente e nem preciso dizer que isso prende-nos a leitura por todo o livro. O final? Incrível e inesperado!

¨- No passaporte, na minha nacionalidade, está escrito: Apátrida. O que quer dizer isto?
- Quer dizer que a senhora, daqui por diante, não tem pátria.¨

O que ler ¨Apátrida¨ significou pra mim? Muita coisa. Bergamasco personificou o sofrimento de Irena de modo angustiante. Não sou uma pessoa de se emocionar fácil, mas confesso que, em determinados momentos da narrativa, senti aquele aperto no peito frente a todas as atrocidades cometidas àquelas pessoas inocentes. Dói saber o quanto somos capazes de ser intolerantes e desumanos, causar tanto sofrimento...

Ana Paula abordou diversas religiões de uma maneira bem leve: católicos, judeus, protestantes, Testemunhas de Jeová e representantes do Opus Dei. Um mix de diferentes crenças que precisam ser respeitadas. Respeito... De fato, o século XX foi carente neste quesito.

¨Muitos sabiam. Ninguém impediu. Nem aqueles que poderiam tê-lo feito. Hoje tenho certeza de que foi uma omissão relevante. A partir daí este foi o parâmetro da bestialidade. Passamos a tolerar gestos igualmente brutais, em menores proporções.¨

O trecho acima transmite bem o que penso sobre tudo isso que, agora, apenas serve para ser lembrado e jamais repetido. Nada além disso pode ser feito. Milhões de vidas ceifadas e destruídas...

Bom, como sempre, tive muito cuidado de não ter revelado nada que estrague as surpresas do livro. É evidente que Ana Paula fez ótimas pesquisas para expressar a verossimilhança de seu romance e isso culminou em uma obra de excelente qualidade literária. Recomendo com todos os argumentos que puder.

E uma promessa que faço a vocês é que em breve teremos uma promoção deste livro. Meus leitores merecem.

Ana, muito obrigado pela atenção comigo e pela parceria.

Apátrida no Skoob
Ana Paula Bergamasco no Skoob

Blog do livro Apátrida
Twitter da Ana Paula Bergamasco

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7 comentários:

  1. Otima resenha.... confesso q a principio n tinha me interessado pelo livro. mas agora... Agora preciso lê-lo!
    obrigado pela resenha... e a capa esta realmente linda!
    abraçoo

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  2. Poxa.
    Quero tanto esse livro! :~
    A resenha está ótima!

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  3. ADOREI a resenha.
    Estava doida pra ler o livro e acabei ganhando da Ana! *o*
    Fiquei SUPER feliz, em breve vou resenhar também \o/

    Beijocas!
    Juh Oliveto
    Livros & Bolinhos ~

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  4. Olha, eu também sou como você. Todo livro que retrata o holocausto, nazismo etc, mexem muito comigo. Me deixam muito emocionada. Apesar de tudo, eu gosto muito do assunto.

    No momento estou lendo um livro que aborda esses assuntos, também de um brasileiro. Chama-se: O Arquiteto do Esquecimento e está me arrancando lágrimas e mexendo de todas as formas com meus sentimentos.

    Também recebi o livro da Ana. Espero lê-lo em breve. A capa realmente é muito linda.

    Espero assim como você, outros possam apreciar essa obra. E diferente do que muitos dizem, temos muitos autores excelentes em nosso país. Criatividade, talento, etc é algo que nasce com a pessoa, independente de onde ela seja.

    Parabéns pela resenha!

    beijinhos,

    Ler e Almejar

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  5. Ótima a sua resenha, gostei demais
    Eu sempre fico hipnotizada por histórias que se passam nos períodos das grandes guerras, meus livros favoritos tem essa temática como pano de fundo. Pelo visto, esse tem chance de ser tornar mais um nessa minha lista.
    Adorei conhecer o seu blog ! ;)

    beijos, Mel
    Defatto! & Três Lápis

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  6. Cara... Excelente sua resenha!!!
    Agora eu quero muito ler o livro!!!
    Com certeza vou participar da promoção!!!
    Eu como um dos seus primeiros seguidores nçao iria ficar fora dessa!!!

    Flw.. abração e tudo d bom!!

    Clodoveu Júnior
    http://abstraia-se.blogspot.com/

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  7. Olá, quem deve lhe agradecer sou eu!
    Uma bela resenha!
    Fico muito feliz queo livro lhe agradou!
    Um abraço, ana

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